Nome completo: Rodrigo Barroca Teixeira
Data de nascimento: 27/07/1976
Posição: goleiro/treinador de goleiros
Carreira de jogador: base Portuguesa-SP, base Corinthians-SP. Futsal durante seis em vários clubes de São Paulo.
Carreira de treinador de goleiros: Portuguesa/SP, Boa Vista, Nacional-SP, Grêmio Prudente-SP, Al Shoalah-CAT, Mesaimeer-CAT, Al Shamal-CAT e Red Bull-SP
Rodrigo Barroca poderia ter se desanimado com o futebol após lesões que o impediram de seguir carreira. Porém, descobriu que havia um nicho pouco explorado em que poderia desenvolver habilidades.
Nesta entrevista, o treinador de goleiros do Red Bull Brasil fala de sua experiência no futebol do Catar, como escolheu a profissão e compara a situação do profissional no Brasil e no país árabe.
Carreira de jogador
Soube que você teve uma lesão grave no início da carreira, que o impediu de seguir atuando como jogador profissional. Poderia falar sobre o que ocorreu?
Quando estava no sub-17, tive duas graves lesões de tornozelo, totalizando quase um ano sem poder treinar. Esta categoria talvez seja a mais difícil, pois é o elo com os juniores e profissional. Ainda tentei bastante, mas a posição de goleiro é ainda mais disputada. Assim, eu tinha oportunidade apenas em clubes menores. Isso fez com que eu me adaptasse e iniciasse no futsal e também ingressei na universidade para fazer educação física.
Qual foi o sentimento?
No início foi um pouco difícil, pois eu ainda era jovem, mas com o tempo eu percebi que o futebol é muito competitivo e poucos conseguem jogar em grandes clubes. Muitos ficam em clubes sem estrutura, às vezes com salários atrasados e com a esperança de, um dia, jogar em um grande clube. Mas fui estudar para me preparar melhor e ser treinador de goleiros.
Época de treinador de goleiros no Catar
Você já pensava em seguir a carreira depois de se aposentar como jogador ou o término precoce da carreira o fez procurar outros caminhos?
Depois que iniciei na universidade, eu já pretendia ser treinador de goleiros, mas sei que hoje, mesmo sendo uma profissão relativamente nova, tem muita gente querendo trabalhar com goleiros. Por isso, eu sabia que tinha que me preparar muito para ter um diferencial a fim de conseguir destaque no futebol.
Como surgiu a proposta do Al-Shoalah, do Catar? Como foi o contato?
Eu fui contratado pelo Barueri (atual Grêmio Prudente), em 2003, quando o treinador Adilson Fernandes estava lá. Ele gostou do meu trabalho e fez o convite para ir trabalhar no Catar. Daí, iniciaram-se as conversas sobre o contrato e logo me mandaram o visto para embarcar.
É curioso o fato de a função de treinador de goleiros ter premiação. Isso aponta para maior valorização da classe no Catar do que no Brasil? Como enxerga a profissão em nosso país?
A Federação do Catar está investindo muito para fazer com que o futebol seja conhecido e competitivo. Por isso, estão sempre contratando as melhores comissões técnicas e os melhores jogadores para que haja, assim, uma evolução do jogador catariano.
Em todo fim de temporada, há uma confraternização oferecida pela Federação, na qual todos os clubes se apresentam com seus jogadores e suas comissões. Eles fazem uma votação entre os jornalistas e jogadores locais para os melhores jogadores e treinadores da temporada.
No Catar, o treinador de goleiros tem uma grande valorização, financeira e profissional, pois é considerado, depois do treinador da equipe, o mais importante da comissão. Lá, o treinador de goleiros tem toda a responsabilidade sobre os acertos e os erros, escalação, enfim, sobre a evolução dos goleiros. Sempre a imprensa prioriza os goleiros nas matérias de TV e nos jornais, o que contribui para o nosso sucesso dentro do país.
No Brasil, estamos evoluindo muito, prova disso é que hoje existem mais de fez grandes goleiros jogando na Europa, enquanto, há poucos anos, isso era quase impossível. Mas ainda falta muito investimento dos clubes nas categorias de base com treinadores preparados para fazer com que os goleiros, quando chegarem ao profissional, tenham condições técnicas compatíveis com um grande goleiro do Brasil e do exterior.
Infelizmente, o Brasil é o único país do mundo onde o treinador de goleiros não senta no banco de reservas durante as partidas, tendo que ir para a arquibancada assistir ao jogo, ficando impossível passar alguma informação ao seu atleta. Acho que ainda falta reconhecimento dos clubes e das federações brasileiros com os treinadores de goleiros para que se criem condições de se realizar grandes trabalhos com os nossos atletas.
Futebol no Catar
Como você enxerga o nível do futebol no país, que pretende sediar a Copa do Mundo de 2022? Em termos de futebol, o país está pronto para ser competitivo internacionalmente?
O futebol do Catar ainda precisa evoluir muito para poder ter sucesso a nível mundial. Cada clube tem grandes comissões técnicas e vários estrangeiros, jogadores com passaporte, e assim sobram poucas vagas aos catarianos.
Por isso, quando a seleção tem competições no Golfo Pérsico, ela tem destaque, mas quando se inclui a Ásia nestas competições, o país tem dificuldades para obter sucesso.
Para sediar a copa de 2022, o Catar tem totais condições para realizá-la: estádios maravilhosos, com toda a estrutura, há intenção de se reformar novamente todos os estádios, que já são de grande estrutura. O único problema que eu vejo é o calor que faz no verão do Catar, que em junho e julho é por volta dos 50ºC durante o dia e 40ºC à noite.
Os clubes catarianos possuem divisões de base? Como é a base do treinamento, tanto de jogadores de linha como de goleiros? Quais as diferenças em relação ao Brasil?
O Catar investe muito no profissional e quase nada nas categorias de base, onde são contratadas comissões de pouco investimento, como: Sudão, Tunísia, Egito, Omã. Os treinadores não têm preparo algum para que as categorias de base evoluam.
Assim, poucos jogadores chegam ao profissional com qualidade técnica para ser um grande jogador. Eu penso que quando contratarem profissionais capacitados a realizar um projeto para iniciar o futebol desde criança, poderemos ver o Catar no cenário internacional.
No Brasil é diferente, além da tradição no futebol, as crianças já crescem vivenciando o esporte, as categorias de base dos clubes são melhores preparadas pelas comissões, que têm ótimos profissionais, se especializando em trabalhar com categorias de base.
O que pôde aprender, em todos os aspectos, num país de cultura e hábitos tão distantes da nossa?
Foi muito importante passar cinco anos no Catar. No começo foi um pouco difícil, mas depois me adaptei bem. Aprender a falar inglês e também um pouco de árabe foi muito bom.
O Catar é um país em grande crescimento, muito rico, grandes construções, grandes shoppings. Um país com o qual se deve ter muito respeito. Há regras duras, não existem assaltos. É um ótimo país para se viver com a família, tem muita segurança.
Red Bull Brasil
O que o levou a aceitar voltar ao país para trabalhar no Red Bull?
Depois de cinco anos no Catar adquirindo experiência, queria retornar ao Brasil para trabalhar em uma grande equipe. Foi quando recebi o convite do Red Bull e eles me apresentaram o projeto, que é muito interessante para quem quer obter sucesso no futebol brasileiro. Em poucos anos, o Red Bull será uma grande potência dentro do Brasil.
O clube de Campinas valoriza o treinador de goleiros?
Estou muito contente em trabalhar no Red Bull, ele valorizam todos os seus profissionais.
Vi no site oficial do clube que dois dos três goleiros são bastante jovens. Prefere trabalhar com goleiros jovens ou mais experientes? Qual é mais fácil de impor as cargas de treinamento?
Quando eu cheguei ao Red Bull, o Campeonato Paulista era sub-23, por isso tivemos que contratar goleiros novos. Fomos buscar no Corinthians o Luiz Fernando, goleiro com 13 anos de clube, com grande qualidade. Foi o goleiro menos vazado nos dois acessos do Red Bull (para as Séries A3 e A2).
Os nossos goleiros são novos, ótimos profissionais, com boa técnica e que não têm tantos vícios e, quando eles existem, alguns são mais fáceis para treinar e melhorar. Alguns goleiros mais experientes são difíceis de trabalhar, pois têm de ter uma programação diferente dos mais novos, as cargas de treinamento têm que ser menores e as deficiências técnicas são mais difíceis de melhorar.
Futuro
Quais os planos para o prosseguimento da carreira?
Procuro estar sempre me atualizando nos meus trabalhos afim de obter destaque sempre. Acredito que, com o sucesso da Red Bull, meu trabalho vai estar em evidência e, assim, os convites com grandes treinadores e grandes clubes irão sempre aparecer.
Quais são os seus objetivos, sonhos, enfim, aonde pretende chegar profissionalmente?
Hoje, meu nome está escrito e em destaque com os goleiros no Catar e agora estou preparado para ter o mesmo sucesso com os goleiros aqui no Brasil.
Fonte das fotos: arquivo pessoal